Sinopse:      Para a maior parte dos brasileiros, a criação do Brasil como um Estado independente não remete à imagem de conflitos armados. Entre nós, consolidou-se a versão de que a Independência foi forjada mediante um consenso, de um “acordo entre elites” das diversas províncias. O fato de o Império do Brasil ter se erguido praticamente sobre todo o território que antes compunha os domínios portugueses na América reforçou a idéia de uma transição pacífica, como se fosse uma evolução natural e inevitável a transformação de uma colônia em um país autônomo. Contradizendo tal percepção, este livro demonstra que a crise política do Antigo Regime português no Grão-Pará, ao atingir seu clímax com a convocação das Cortes em 1821, não abria caminho necessariamente para a integração dessa província a um novo Império em terras americanas. Ao contrário, mesmo após a submissão dos paraenses ao governo independente sediado no Rio de Janeiro, em agosto de 1823, muitos duvidavam que este quadro se manteria. Na província, formaram-se diferentes partidos sem que nenhum deles conseguisse impor seu projeto político de forma estável. Dessa forma, até 1825, parecia crível tanto que o Pará seria parte do Brasil, como que seria reconquistado por Lisboa ou, ainda, que poderia integrar um outro Estado americano fora da órbita do Rio de Janeiro. Este cenário de incertezas, típico dos momentos de crise sistêmica, abriu caminho para uma guerra civil em território paraense que deixou clara toda a complexidade do que estava em disputa no período da Independência: o que estava em questão não era apenas se aqueles homens seriam portugueses ou brasileiros, mas se o Estado ao qual o Pará estaria alinhado evitaria a subversão da ordem, como desejavam alguns grupos, ou representaria um projeto político revolucionário, tal como aspiravam outros tantos. |