Sinopse:      Ao lado de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Florestan Fernandes, dentre outros, Celso Furtado é um autor fundamental do Pensamento Social Brasileiro. Propor a revisão de algumas das teses centrais da sua obra seminal, Formação Econômica do Brasil, não é algo evidente. É a este desafio que Elias de Oliveira Sampaio tem se dedicado há quase uma década; e que remonta há mais de trinta anos, quando teve o primeiro contato com o livro do autor. O então estudante de Economia não ficou incólume à passagem do livro, originalmente publicado em 1959, na qual Furtado faz menção ao “reduzido desenvolvimento mental da população submetida à escravidão”, que provocaria sua “segregação parcial após a abolição”, retardando “sua assimilação e entorpecendo o desenvolvimento econômico do país”. Por muito tempo ela ecoou “de forma aguda e ensurdecedora” em sua mente. Mas o incômodo que causou no intelectual negro em flor não impediu que este a deixasse fermentar. O livro que o leitor tem em mãos é o resultado desse processo de fermentação. Ele conjuga as qualidades de um cientista que desenhou um percurso acadêmico sólido com as do homem de ação lúcido, atualmente lotado no Ministério da Economia, que atuou na Sudene criada por Furtado e foi responsável pela Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Governo do Estado da Bahia. Dialogando com Celso Furtado... está escrito em prosa envolvente, distante do economês, pois a motivação principal da sua tessitura não foi “simplesmente” problematizar a obra do patrono dos economistas, criticá-la no que tange à questão do negro na nossa formação econômica, o que já seria uma empreitada louvável. O autor quis mais, desejou comprovar que nenhuma discussão sobre desenvolvimento econômico e melhoria do bem-estar no Brasil pode se furtar a incorporar a igualdade racial como pilar da implementação de políticas públicas. Trata-se, assim, de um trabalho de grande densidade, que é simultaneamente autobiográfico. O sociólogo francês Pierre Bourdieu afirmou certa vez de seu conterrâneo, o filósofo Michel Foucault, que este foi um homossexual que soube fazer da sua orientação sexual uma arma potente para impulsionar suas meditações filosóficas. Nessa linha de raciocínio, pode ser dito de Elias Sampaio que ele faz parte de uma geração de intelectuais negros capaz de fazer da compreensão sobre o racismo estrutural que marca nossa sociedade um alicerce para uma reflexão acadêmica acurada. Felizmente não é o único, mas certamente é um daqueles de fina estampa. |